Sei lá, mil coisas

Bom dia!

Nas últimas semanas intensifiquei meus estudos para uma prova de mestrado que fiz e, se não passei, tive no mínimo uma experiência maravilhosa e transformadora com os textos que precisei ler. Alguns deles falavam sobre o currículo escolar e a necessidade de entendê-lo como algo que vai além dos parâmetros adotados pelos PCNs, O currículo se tece - isso mesmo, tecer e não construir, pois construir nos remete à linearidade e o conhecimento não se faz linearmente, mas se tece nas nossas rede de conhecimento cotidianas, em outras palavras, aprendemos o tempo todo em contato com o outro - no dia a dia. Isso me fez parar para pensar nas tantas vezes em que ouvi reclamações das coordenações dos colégios nos quais trabalhei quando trazia - e isso acontecia frequentemente - propostas de atividades de última hora para impressão. Eu ouvia: -As aulas precisam ser planejadas com antecedência! E respondia: -Mas aconteceu ontem, como podia prever isso? Enfim, achava que não podia negar aqueles acontecimentos do cotidiano - a morte do cantor Michael Jackson, por exemplo - e deixar de comentá-los em sala, mais do que isso, permitir que os alunos falassem a respeito. Não posso fazer de minha sala um lugar de utopia desvinculado do mundo real, pensava. E lá ia eu trocar experiências com eles. Às vezes um aluno me perguntava: -Professora, a aula hoje é sobre o que? Eu dizia -Sei lá: mil coisas! E a gente seguia se divertindo com os assuntos mais diversos...

Bem, todo esse saudosismo foi para introduzir a ideia de hoje. Estava lendo Luis Fernando Veríssimo em "As Mentiras que os Homens Contam" - realmente me diverti muito com o livro - e não parei de pensar em quantos alunos iam adoram essa leitura. Um dos textos, em especial chamou minha atenção. Ela fala sobre a origem do dia primeiro de abril. São três versões, uma delas possivelmente verdadeira:

A Verdade Sobre o Dia Primeiro de Abril - Luis Fernando Veríssimo

O ano nem sempre foi como nós o conhecemos agora. Por exemplo: no antigo calendário romano, abril era o segundo mês do ano. E na França, até meados do século XVI, abril era o primeiro mês. Como havia o hábito de dar presentes no começo de cada ano, o primeiro dia de abril era, para os franceses da época, o que o Natal é para nós hoje, um dia de alegrias, salvo para quem ganhava meias ou uma água-de-colônia barata. Com a introdução do calendário gregoriano, em 1564, primeiro de janeiro passou a ser o primeiro dia do ano e, portanto, o dia dos presentes. E primeiro de abril passou a ser um falso Natal - o dia de não se ganhar mais nada. Por extensão, o dia de ser iludido. Por extensão, o Dia da Mentira. 

VOCÊ ACREDITOU NESSA? 

Há outra. No hemisfério Norte, onde tudo é o contrário do hemisfério Sul - inclusive, em muitos países, corrupto vai para a cadeia, imagine! -, a primavera está no auge em abril. “Abril” viria, mesmo, do latim Aprills, que viria de Aperire, ou Abrir, pois a primavera é a estação em que os botões se abrem, tanto das flores quanto das roupas, e o pólen está no ar, e as abelhas voam, os camponeses correm atrás das camponesas e, como se não bastasse toda esta confusão, os alérgicos espirram e os pássaros cantam. Um dos primeiros pássaros a cantar a chegada da primavera é o cuco, cuja característica é imitar a voz de outros pássaros, tanto  que os assim chamados relógios-cucos não deviam ter este nome, já que o que o passarinho canta quando sai da janelinha nunca é o seu próprio canto, é plágio. O primeiro dia  de abril, na Europa, era, portanto, o Dia do Cuco, que saía do seu ninho para espalhar a discórdia, já que ora imitava um pássaro, ora imitava outro. E a todas estas horas as camponesas voavam, as abelhas perseguiam os camponeses pelos campos e os alérgicos floriam e as flores espirravam e os padres mandavam parar essa pouca-vergonha, já! E matem aquele cuco. Primeiro de abril era o Dia do Cuco. O cuco é um pássaro mentiroso. Aliás, até hoje, ninguém, fora alguns parentes mais chegados, sabe como é o canto real de um cuco, já que ele sempre canta como outro. Logo, primeiro de abril ficou como o dia dos mentirosos. 

ESSA CONVENCEU? 

Aqui vai outra. Na verdade tudo vem da  Índia, onde desde tempos imemoráveis existe o Festival de Huli, uma festa que dura um mês e em que tudo é ao contrário, tanto que ela começa no dia 30 de abril e termina no dia primeiro, quando as pessoas entram nas suas casas, de costas e começam a se preparar para a festa que já houve. O último dia do Festival de Huli é reservado para o “Vahila”, que em sânscrito quer dizer “Tirar um Sarro”, que é quando as pessoas recebem incumbências absurdas, como - isto já na época do domínio britanico - levantar a saia da estátua da rainha Vitória para ver se a calcinha também era de bronze. Foram, aliás, os ingleses que levaram a tradição do Huli para a Europa, junto com o curry e a malária.

Uma destas é a verdadeira origem do primeiro de abril. Mas, claro, isto também pode ser mentira… 

Os textos acima são uma boa forma de falar sobre etimologia ,propor uma brincadeira de inventar significados para as palavras ou explicação para alguns provérbios, por exemplo. A sala de aula é realmente um lugar de muitas possibilidades. Podemos ler só por ler também... assim como fiz... só pra sentir o prazer de um texto que nos provoca risos...



E como comigo uma coisa nunca se esgota nela mesma e sempre me leva para outra, lembrei de um livro muito bacana do jornalista e escritor Gianni Rodari. Chama-se Gramática da Fantasia.


Nele, transformando o leitor em aprendiz de feiticeiro, Rodari apresenta várias técnicas e exercícios para o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, com propostas práticas e simples que podem resultar na produção de narrativas orais ou escritas.
A partir da ideia chave de um "binômico fantástico", isto é, de duas palavras que se unem por acaso, como "cão" e "armário", o autor demonstra como criar uma história em que um homem, ao voltar para a casa e abrir o guarda-roupas para pegar o roupão, se depara com um cachorro.
Desenvolvendo essa ideia  Rodari chega a outras propostas como a união de um personagem conhecido com um elemento inusitado, "Chapeuzinho Vermelho" e um "helicóptero", ou ainda propõe que se produza uma "salada de fábulas". O que não falta ao livro são exemplos, retirados das muitas experiências que o autor desenvolveu ao longo de sua carreira, visitando escolas e interagindo com as crianças italianas.
Trata-se, vale repetir, de propostas práticas, facilmente aplicáveis em sala de aula, que transformam a obra num instrumento precioso e eficaz para todos os que acreditam que a imaginação deve ter um papel na educação, para os que apostam na criatividade infantil, para aqueles que conhecem o valor de liberação que a palavra pode ter.
Melhor, escrito por um inventor de histórias e um grande comunicador, "Gramática da Fantasia" é uma leitura acessível e agradável, uma daqueles livros que o leitor não consegue deixar antes de chegar ao fim.
Ficaram curiosos? Baixe o livro no link: http://www.4shared.com/office/DmKXKglS/Gramatica-da-Fantasia.html
BJ, BJ.




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