Ah...a poesia, oh...a música
Oi, gentem!
Hoje estou passando rapidinho por aqui, pois ainda tenho muito a fazer. Mas achei que valia a pena compartilhar uma experiência e mais uma ideia para uma aula.
Bem,. estava eu há poucos minutos voltando para minha casa no metrô, lendo, como de costume, quando ouvi uma voz que dizia para uma senhora:
- Gosta de poesia?
Nesse momento a leitura que vinha fazendo deixou subitamente de me interessar e passei a me concentrar na conversa. E eis que a senhora respondeu:
- Gosto, mas....
Hum... aqueles que foram ou são meus alunos sabem que contra esse operador argumentativo - mas - não tem conversa. "Gosto, mas..." O que ela quis dizer com esse mas? bem, isso também já deixou de me interessar. Queria mesmo era saber quem era a feliz criatura que estava oferecendo prazer, digo, poesia aos outros.
Nesse momento conheci meu interlocutor - Pedro. Um jovem simpático, autor das poesias que oferecia, formando-se em jornalismo. Que alegria me deu antes mesmo de ler o que havia escrito. Como é prazeroso ver os jovens escrevendo!
Rapidamente me ofereci para ler seus textos, muito bons por sinal.Um deles lembrou-me de uma música da Adriana Calcanhoto e tive uma ideia: solicitar que os alunos (do ensino médio, visto os vocábulos usados no poema) escrevam músicas inspiradas em poesia e/ou poesias inspiradas em músicas. Bem, o resto é com vocês. Volto em breve.
Em falso
(Pedro Cavalcanti)
Encontro a lagoa, na Borges,
A noite me dói
Se a procuro refletida
E não vejo
Persigo o dia
Vou ao Flamengo, Botafogo
O inferno chega em mim
Aos poucos
Como as folhas caídas do aterro
Quero o gosto, aquele
Aquela seiva de corpo
Aquele fluido vaginal
Aquele vício
A natureza me chama
Não sei de onde vem
Mas ouço
Na Urca, medito
Com os pés descalços
A Avenida Portugal me recebe
Lacônica
A vejo do outro lado
Num embaraço
De passos
Que me enlaçam
Quero tabaco, cachaça, sexo
E ócio
Quero gozar definitivamente
Não quero porra nenhuma, só quero
Quer parem de me seguir a rota
Os epiléticos de Copacabana
Os felizes e os saciados
Das varandas
Trocam-se olhares supeitos
Que apontam perdida
Na Paissandu
Próximo ao Largo do Machado
É claro, vejo seu traço no céu,
Vou de encontro
Piso em falso
Sou outra coisa, menos gente
Sou nada
Sou triste demais
Tenho braços que me atrapalham
Que sobram
Que me nadam na baía,
Se penso que ela esteja
Na ponte
Prestes...
Eu
Ao dissabor de pálidas armas
Amantes hipotéticas
Com seus gatilhos de veludo
Vermelho
Seus sexos tapados
Que de mansinho
Ou com vigor
Sempre me dizem
Não
Eu
sou eu que entendo John Lennon
Também amei Yoko Ono
Desde que vi seu "yes"
Sapiente
Rompante
Conclusivo
Romântico e destruído
Por nada
Em Laranjeiras eu caio
Exausto
Na pinheiro Machado
A lua apaga, a vista embaça
Próximo ao viaduto
Não sei o que ainda me prende
Me prende, de fato
O gerúndio processual e inconcluso
Acabou de acabar.
Ele que há tempos me adiava:
Não estou ficando louco
Agora
Eu
Já...
Programa - Adriana Calcanhoto
Vá a Zona Sul
às nove
se quiser comer
o seu sushi com cólera;
Meia noite e dez
descole
mais um digestivo no Ilusão de Ótica;
Passe pela Lapa, pelos
arco-íris dos seus arcos
mais explícitos
pelo claro-escuro, pelo
som impuro, obscuros becos,
claros dígitos
Uma e meia aperte um broto e
com precisão pra lá de
matemática
Saia às três e arroche a prima moto
pra Bangu e à segurança máxima.
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